Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Share on whatsapp
Share on facebook
Share on telegram
Share on linkedin
Share on email

Aprovada em medicina aos 49 anos e após 12 tentativas, estudante de PE aconselha outras mulheres: ‘sonhem’

O sorriso no rosto e os calos nas mãos mostram que a vida de Janecleia Martins é feita de muita luta e esperança. Mãe, esposa, dona de casa, vendedora de marmita, passadeira, e, agora, aos 49 anos, estudante de medicina. Após 12 anos de tentativas, a moradora de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, acaba de ser aprovada no vestibular da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Salvador.

Ser médica é o sonho de Janecleia desde os 11 anos de idade. “Queria curar as pessoas que tinham a mesma doença que minha avó, que morreu de câncer”, conta. Só que a vida tinha outros planos para ela. Casamento aos 16, nascimento da primeira filha aos 17, sete anos depois, a chegada do segundo filho. Foram anos de trabalho, mas sem deixar morrer a vontade de menina.

A chegada do curso de medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em Petrolina reacendeu em Janecleia o desejo de retomar os estudos. Ela, que terminou o Ensino Médio em 1994, em 2010 fez o Enem e vestibular pela primeira vez.

“Eu sempre quis ser médica, mas a família não tinha condições. Mas, ao longo do tempo foi amadurecendo essa ideia, até que a Universidade veio para cá [Petrolina] e reavivou ainda mais o meu sonho. E eu disse: agora eu vou, porque vou conseguir o que eu sempre quis”, destaca Jane, como é conhecida.

Sem frequentar uma sala de aulas há 16 anos, Jane foi em busca de qualificação. Oriunda de escola pública, ela concorria a vaga de bolsistas em cursinhos preparatórios da região. “Não tinha condições nenhuma de pagar um cursinho pré-vestibular”, diz. “Durante muitos anos foi assim que me preparei. Como tinha parado os estudos em 1994, comecei do zero em 2010”, completa a estudante.

O curso de medicina costuma ser o mais concorrido nas universidades. Se para quem tem toda a estrutura, a aprovação é difícil, para Janecleia, que encara uma jornada tripla, a persistência foi a principal arma. “Comecei do zero, até quando consegui ir aumentando minha nota, até chegar onde cheguei hoje, graças a Deus”.

De Petrolina para Salvador

As coisas na vida de Janecleia não costumam ser fáceis. Embora o curso de medicina da Univasf tenha sido a motivação para ela voltar a estudar, a aprovação no tão sonhado curso veio no vestibular da Uneb, em Salvador, há pouco mais de 500 km de distância de Petrolina.

Jane vai estudar na Uneb, em Salvador — Foto: Divulgação/Uneb

Jane vai estudar na Uneb, em Salvador — Foto: Divulgação/Uneb

Janecleia e o marido Sirley moram no bairro José e Maria, na periferia de Petrolina. Atualmente, ela trabalha passando roupas e ele como autônomo. O filho mais novo, de 25 anos, está desempregado. A filha, de 32, faz faculdade a distância. A família se equilibra para manter as contas em dia. Mas, a falta de dinheiro não impediria que Jane deixasse de realizar o sonho de infância justamente quando ele estava tão perto.

O resultado do vestibular da Uneb saiu em fevereiro e Jane teria poucos dias para realizar a matrícula. “Teve uma explosão de alegria quando recebi a notícia que passei, mas aí fiquei totalmente triste porque sabia que não ia ter como ir a Salvador. Não tinha condição financeira nenhuma”, conta Jane, lembrando que neste momento a família foi fundamental.

“Estava todo mundo feliz, mas eu disse que não tinha condições de arcar com as despesas, nem com a passagem para levar a documentação para garantir minha vaga. Foi quando meu irmão e minha família todos se juntaram e, em poucas horas, conseguimos o dinheiro para pagar a passagem. Saí daqui no penúltimo dia, no último ônibus”.

Jane conta que viajou para a capital baiana apenas com a passagem de ida e mais R$ 30 para se locomover na cidade. Após realizar a matrícula no Campus da Uneb, retornou para a rodoviária enquanto aguardava a família conseguir o dinheiro para comprar a passagem de volta. Durante esse tempo, se alimentou com água e biscoitos que havia levado de casa.

Aprovada e devidamente matriculada, Janecleia vai começar a estudar na próxima segunda-feira (13). Graças ao dinheiro arrecadado por uma vaquinha virtual feita pela filha, ela conseguiu o suficiente para se manter na cidade pelos próximos três meses. Neste tempo, vai procurar os serviços de assistência da Universidade e não descarta aceitar trabalhos extra para manter a renda. “Passo até roupa, se for preciso”, afirma.

Jane não vê a medicina como um meio apenas para ganhar dinheiro. “Vai ser medicina por amor mesmo. Se fosse só para ganhar dinheiro, continuava vendendo marmita”, afirma.

” A minha pretensão daqui pra frente é fazer o melhor do melhor que eu puder, me qualificar o máximo possível, ser o mais humana possível na profissão, porque realmente vai ser por amor”, diz a futura cirurgiã.

Fonte de inspiração para vizinhos, familiares e os inúmeros colegas de cursinho que teve ao longo desses 12 anos, Jane deixa um recado, principalmente para as mulheres.

“Quero motivar as mulheres que têm sonhos. E as que não têm, que abram suas cabeças e sonhem, porque só sonhando e tendo objetivos, você chegará onde quer”.

Fonte: https://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2023/03/08/aprovada-em-medicina-aos-49-anos-e-apos-12-tentativas-estudante-de-pe-aconselha-outras-mulheres-sonhem.ghtml

Comente o que achou

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *