Quando se trata da população total de pets, o Brasil é o terceiro do mundo, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Nesse cenário, cada vez mais os bichanos fazem parte da rotina das famílias, inclusive na hora de dormir.
Nos momentos noturnos, existem aqueles que deixam a caminha do pet no quarto e há pessoas que dividem a própria cama com o animal. De acordo com as conclusões de um estudo publicado no periódico Mayo Clinic Proceedings, o sono de um tutor pode ser comprometido quando o animal dorme na mesma cama.
Dormir com o pet atrapalha o sono?
Especialistas explicam que, na verdade, tudo depende de uma série de fatores. Há quem se adapte bem e há quem precise de alguns cuidados quando for dormir colado ao pet.
João Gallinaro, psiquiatra e especialista em Medicina do Sono pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), fala sobre dois pontos. “Ao dormir, a pessoa pode se sentir mais segura e o animal também fortalece o vínculo com o tutor. Quando falo de pessoas que não se beneficiam, são aquelas que têm algum distúrbio de sono, respiratório ou alérgico.”
Conforme a psicóloga Eliane Farias e a professora Camila Freitas, do curso de Medicina Veterinária da Universidade Braz Cubas, pode-se ter uma contraindicação para crianças ou pacientes acamados, seja por idade, seja por questões de saúde física.
Quando se trata dos cães, a professora do curso de Medicina Veterinária da UNIFRAN, Valeska Rodrigues, destaca que essa prática pode afetar o comportamento deles e dos humanos. “Dificilmente poderemos manter em cima da cama animais de caça e pastoreio, bem como de faro e guarda”, diz.
omo essa mobília é um local de descanso, não é preciso restrições quando um não atrapalhar o outro, e quando a condição de saúde for boa para ambos. O tutor precisa identificar se há problemas que restringem esse hábito, ou se o sono está sendo realmente prejudicado por conta do animal.
Características do pet que podem prejudicar o sono
Segundo uma pesquisa publicada na Sleep Epidemiology, 65,5% da população brasileira não dorme bem. Dentre os distúrbios do sono está a insônia, um problema que afeta 73 milhões de pessoas no Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira do Sono (ABS).
Pessoas que já possuem problemas para dormir precisam evitar os momentos noturnos com o pet na mesma cama, ainda mais se o animal possui comportamentos que podem intensificar distúrbios do sono.
A médica-veterinária comportamentalista Sabina Scardua cita algumas ações que podem não ser benéficas, como animais que roncam; que vocalizam enquanto sonham; que mudam muito de posição; que latem para qualquer ruído; e que sobem e descem da cama muitas vezes para beber água, fazer xixi ou rondar a casa.
Caso a pessoa tenha mais de um pet, pode acontecer de os bichos resolverem brincar na cama ou disputarem pelo espaço. “Depende muito da personalidade do animal, do treino e da rotina estabelecida na casa e se a pessoa tem sono leve”, destaca Sabina.
Gatos, por exemplo, são animais que se movimentam mais à noite e que precisam de um ambiente enriquecido — Foto: Pexels / Sornbhakkanut Boonprasop / Creative Commons
Os gatos, por exemplo, têm uma maior atividade durante a noite, o que pode causar interrupções no sono do tutor, despertando-o diversas vezes.
“Promover um ambiente acessível com enriquecimento ambiental, como brinquedos longe do local de dormir, pode fazer com que o animal se entretenha em outro ambiente da casa, reduzindo o barulho e o despertar”, orienta a médica-veterinária Juliana Ferreiro Vieira.
João lembra que, mesmo que o bichano tenha o costume de se movimentar muito, o tutor pode não despertar completamente, porém acorda mais cansado.
Alergias e pets na cama
Espirros, coceiras nos olhos e alergias na pele: esses são alguns dos sintomas que pessoas com problemas respiratórios podem apresentar. Tutores com esses quadros não combinam com pets dormindo na mesma cama, visto que os problemas podem até se intensificar.
“No geral, dormir com animais pode agravar sintomas de pessoas que já possuem alergia atópica e outras, e de pessoas asmáticas ou com vias respiratórias muito sensíveis”, destaca Sabina. Saliva ou pelos podem provocar sintomas alérgicos e, consequentemente, atrapalhar o sono.
“Nas pessoas mais suscetíveis, a alergia aos animais é provocada por proteínas que estão presentes nos seus pelos ou em casos de descamação’”, explica Juliana. “Nos locais onde os animais permanecem por mais horas, esses componentes estão mais presentes, aumentando o contato do tutor e podendo gerar quadros alérgicos”, complementa.
Um estudo publicado no Journal of Allergy and Clinical Immunology mostrou que um aumento dos sintomas de asma em humanos estava associado à presença de alérgenos de cães no quarto, e não teve associação com a presença de alérgenos de gatos.
Atenção às medidas de higiene!
Para quem pode e tem o costume de dormir na cama com seu pet, as medidas de higiene não podem passar batidas. “É importante que se mantenha sempre limpa a roupa de cama, que seja trocada e lavada periodicamente”, destaca João. Ele também lembra que a prática evita a aglomeração de germes e sujeiras.
O colchão também precisa ser higienizado e trocado em um intervalo menor que o de costume. Juliana sugere realizar aspirações frequentes no colchão e deixá-lo no sol pelo menos uma vez por semana. “Os animais podem ter alergia a ácaros e fungos ambientais, e essas medidas reduzem o acúmulo desses componentes”, explica.
Nesse momento, também é preciso pensar no bem-estar do animal. Sabina alerta para o cuidado no tipo de produto usado para lavar a roupa de cama, como forma de evitar alergias. Ainda, é importante evitar perfumes nos lençóis para não causar irritações nas vias aéreas dos bichos e, até mesmo, náuseas.
Vacinação do pet sempre em dia!
Outro ponto para estar sempre atento é a vacinação dos animais, e o mesmo vale para os humanos. Assim como os bichos podem transmitir doenças infecciosas, as pessoas podem contaminá-los com agentes patogênicos.
“É importante manter as vacinas e vermífugos em dia e evitar passeios em locais com uma presença grande de cães e outros animais”, destaca Valeska. Ela também orienta banhos periódicos, principalmente nos cachorros, e a limpeza das patas ao voltar de uma caminhada.
“De 500 amostras de fezes coletadas de cães atendidos em uma clínica veterinária na cidade de São Paulo, 45% das amostras apresentaram parasitas agentes de zoonoses”, comenta Sabina. “A maioria dos cães do estudo dormiam na cama com seus tutores e eles confessaram que não faziam uso de antiparasitários, com frequência, em seus animais. Isso é muito sério”, alerta.
Medidas para noites tranquilas
Caso a pessoa possa dormir com seu animal na mesma cama, João elenca algumas medidas para a promoção de um sono mais tranquilo.
“O ambiente precisa ser ventilado, silencioso e com uma luz controlada. Além disso, a pessoa precisa ter uma rotina de atividade e evitar alimentos pesados antes de dormir”, comenta. Outra dica é que o tutor faça o animal gastar energia durante o dia para que ele descanse bem à noite.
Fonte: https://revistacasaejardim.globo.com/comportamento/bem-estar-e-saude/noticia/2023/02/dormir-com-pets-na-cama-faz-bem-para-a-saude-especialistas-explicam.ghtml